terça-feira, 10 de novembro de 2015

(Sobre)Viver


Tanto desassossego, tanta destruição, tanta morte.
Vivemos num mundo cada vez mais negro, pintado pela corrupção, pela ganância, pela inveja e pela fome de poder.
Cada vez mais nos refugiamos debaixo dos lençóis ou da própria cama.
Enquanto ouvimos os passos apressados de pseudo-militares a imporem o seu respeito nas ruas, com disciplina e autoridade de ferro.

Nunca fui fã da violência gratuita mas cada vez mais caminhos para um mundo silencioso e amedrontado.
A pensar nisso, alguém sugeriu que devíamos voltar às origens.
Recuarmos a outras eras mais simples e distantes.
Recusarmos pertencer a esta sociedade cega e e desaparecermos no meio da Natureza, tal como os antepassados dos nossos antepassados fizeram, vivendo com, na e pela Natureza.

Não era mau pensado.
A Natureza sempre nos fez bem e nos providenciou tudo o que nós precisávamos, apenas suplicando-nos por compaixão e misericórdia, devido à sua fragilidade e nossa facilidade em destruir do que construir.
Não haveria poder. Não haveria corrupção.
Iríamos verdadeiramente viver na Natureza, sem dependência a tecnologias ou a más influências.

Libertávamo-nos desta prisão a preto e branco a que chamamos sociedade, mundo.
E viveríamos num mundo colorido, cheio de vida e esperança, provavelmente debaixo de um arco-íris.
Mas haveria um problema: implicaria deixar tudo e todos para trás.
Nunca mais veríamos os nossos pais, os nossos amigos, as(os) nossas(os) namoradas(os) e não teríamos acesso a coisas quase indispensáveis como a Internet.

A vida seria um campismo total e permanente. Mas ao invés de trazermos comida do supermercado, teríamos de pescar e caçar.
Não teríamos casa onde passar a noite e teríamos de nos aquecer à beira de uma fogueira de olhos meio abertos não fosse um animal nos atacar.
E o pior é que deixaríamos de ser seres humanos.

Iríamos apenas efectuar acções simples e deixávamos de pensar pensar.
Não seríamos diferentes de um peixe ou de um veado ou de uma andorinha.
Teríamos apenas o instinto de sobrevivência e isso nos tornaria animais.
Seríamos animais e pouco a pouco deixávamos de nos reconhecer (e como não havia espelhos...).

O que para nós era indiferente mas estávamos dependentes da boa vontade da Natureza.
De nos fornecer sol, chuva, alimento, abrigo e outras coisas essencialmente básicas.
Resumidamente, saía-mos da cidade onde vivíamos para entrar na Natureza onde sobreviveríamos.

Linguisticamente falando, sobreviver é melhor que viver, devido ao advérbio sobre, que implica algo superior a.
Mas sobreviver pode indicar viver acima de nós mesmos e isso não é possível.
Ninguém é superior a ninguém e mesmo que não acreditemos em Deus, acreditamos e dependeremos sempre da Natureza.

Portanto, decidi ignorar o conselho desse alguém e ficarei pela cidade, onde me contentarei a viver.
Apenas isso, viver.
Viver de forma simples e serena, pacificamente esperando, enquanto olho pela janela, um sinal de tempos melhores (e bastante mais coloridos). 
Apenas...viver....

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