quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Lobito
Dedicada à vida de um grande companheiro de armas, escrevo isto em tua honra.
Acordas e entras em modo automático pelo duche. Não sentes alegria, tristeza, ou qualquer outro sentimento. Apenas sentes a água que te cobre o corpo enquanto lhe juntas o sabão.
Despedes-te da família pois não sabes se voltas a casa nesse dia, como costume.
É uma batalha que enfrentas todos os dias enquanto caminhas entre os locais do costume: a chuva dura na cara e o seu fiel companheiro vento que te lembra o porquê de terem inventado camas e colchões.
Caminhas sem destino traçado, como um lobo solitário. Lobo... Mais um lobito. Ainda és jovem, eu também o sou e quem está aqui a ler também o é.
Mas caminhas lobito, sem rumo e direcção, sem companhia ou compaixão.
Nunca mostras o teu sorriso, nunca derrubas o muro que ergueste à tua volta.
Caminhas distante da alcateia, porque queres, porque necessitas daquele abraço frio e cruel da solidão.
Por vezes abrigas-te mas sem nunca baixar a guarda. E de madrugada ainda fazes-te à estrada, sem deixar migalha. Apenas saudade.
Mas não te importas. Sempre te sentiste excluído, deixado de fora e sentes-te bem com isso. Recusas a mostrar e partilhar as tuas alegrias mas preferes provar porque tens essas cicatrizes. Eu entendo-te, mostras-las não por compaixão mas por medo de que aconteça o mesmo a quem se aproximar de ti.
Preferes ir vagueando sozinho como um lobito solitário ou até mesmo atacar quem se aproxima, do que deixar alguém te tocar e partilhar o mesmo caminho que tu e ser atacado por outro lobo.
Preferes sentir a tua dor, do que sentir a dor dos outros.
Preferes ver tudo em tons de preto do que em tons coloridos.
Para ti, não há segundos caminhos nem a estrada para trás jamais existe, passo após passo.
Mas para onde quer que vás, guias-te sempre pelas estrelas.
E por elas regressas sempre a casa, junto à tua família.
Mas relembra-te que os lobos são animais de equipa e funcionam melhor em alcateia. Agora não queres mas pensa que na alcateia podias estar mais protegido.
Assim, arriscas-te a sair pelos caminhos de neve e as estrelas não estarem lá para te guiar de volta. E aí desapareces, misturado na neve branca quanto a tua pele e nunca mais te veremos.
Mas se não quiseres regressar, deixa outros lobos caminharem contigo e quem sabe, se não será melhor assim. Podes ser um lobo solitário mas podes ser um lobo amado. Em qualquer das escolhas, continuo a cruzar caminhos contigo na esperança que dispas a pele de lobo e quebres o muro que ergueste. E aí, a chuva parará e o sol voltará a brilhar-te.
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