terça-feira, 28 de junho de 2016

Tesouro Escondido


Escrevo isto agora. Escrevo em papel. Escrevo algo novo aqui no blogue quando na realidade, já estava escrito e descrito na minha cabeça há mais tempo, precisamente há algumas noites atrás. O relógio devia marcar 1h30m e tinha acabado de chegar a casa. Cansado, estafado, deixei-me cair na cama e sem muita cerimónia adormeci. Mas ainda tive forças para esboçar um sorriso enquanto me deixava embalar pelos suaves lençóis e pelo conforto do colchão.

Chegara tarde a casa, num dia de trabalho e mal mantinha os olhos abertos. Foram horas e horas a trabalhar e outras tantas a fazer tempo enquanto não chegava a hora certa. A hora certa de percorrer uma aventura. Era noite e estava vento, bastante até, o que me dificultava ouvir qualquer som emitido pelos fones que tentavam passar música para me acompanhar naquela cruzada.

Cheguei atrasado. Não dei com o local à primeira. Tinham-me perdido mas mantinha o sorriso e a esperança de não falhar o objectivo. Acabei por encontrar o local certo, o "X" que estava no mapa que traçara de memória. E sem mais guia nenhum, aventurei-me por lugares desconhecidos até chegar ao meu destino.

Entrei e tudo ficou escuro. Não via muito nem estavam almas vivas perto de mim. Apenas algumas estátuas que iam emitindo sons e música. Desconhecia a letra mas deixei-me levar pelo som que me atravessava o corpo. E embalado fui quando o pano se levantou e te revelou.

Ali soube, nesse mesmo momento, que tinha encontrado o tesouro que por tanto procurava. Separados e afastados por tantos montes e vales ao longo daquela noite mas ali estavas tão perto. Estavas concentrada, inspirada, feliz. E eu quis deixar-me contagiar. Quis quebrar aquela barreira de vidro transparente e aproximar-me com cuidado para não te assustar e afastar.

Mas não era possível, não tive tempo. O pano caiu rapidamente, voltando-te a esconder e proteger de piratas como eu. Talvez fosse melhor assim, um tesouro bonito que devia ser cuidado mas livre. Livre de pertencer apenas a si mesmo e brilhar.

Mas tu atravessaste a cortina e me viste. E vieste. Vieste na minha direcção. Por uns momentos, fiquei petrificado. Não sabia o que ia dizer. Não sabia o que ia fazer. Mas tu vinhas determinada e com um sorriso no rosto, iluminado pelos holofotes do espaço, face à ausência da Lua.

Falaste e tudo o resto fez silêncio. Pelo menos deixei de ouvir o resto. Só te conseguia ouvir a ti. Só te queria ouvir a ti. Os segundos transformaram-se em minutos e o tempo estava parado mas passava sem notarmos. Tinhas de ir, tal como na peça. E eu tinha de ir, tal como estava escrito.

Despedimo-nos com com dois beijinhos mas ainda regressaste para um abraço. Senti o teu calor e o teu carinho e apertei os meus braços à tua volta. Senti-me protector e protegido em simultâneo. Senti-me observado mas não queria saber de mais ninguém. Apenas quis que aquele momento durasse eternamente, enquanto o vento insistia que nos mexêssemos e dançássemos, sob o olhar vigilante da Lua falsa que brilhava acima de nós.

Despedimo-nos e regressei ao ponto de partida, tal e qual um cavaleiro que regressava da sua viagem. Mas regressei mais leve de preocupações e materiais. Regressei com aquilo que até hoje me faz sorrir de forma tão brilhante quanto o teu sorriso. Regressei com o teu amor. E regressei com a esperança de um dia voltarmos a estar juntos e acabarmos aquela dança que ficou por começar.

Até a uma nova aventura, tesouro transmontano.

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