sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Ampulheta


Tento ter tempo.
Mas o tempo não me tenta ter.
Tento ter alguns minutos para escrever.
Mas o tempo não me dá tempo..

Quero poder pegar numa caneta e libertar os meus pensamentos.
Mas o tempo é de trabalhar.
E ultimamente é tudo o que faço:
Trabalho, trabalho e mais trabalho.

Quero poder escrever.
Desligar-me deste mundo por uns instantes.
E poder voar no meio destas palavras que aqui vos escrevo.
Onde deixo de perceber se estou a escrever ou se estou a ser escrito.

Mas o meu tempo está contado.
Pareço o senhor da imagem aqui em cima.
Começo a escrever sobre pena de cair em breve para o outro lado.
E assim, ter de recomeçar amanhã.

Mas todos nós temos o tempo contado.
E muitos não têm tempo.
Aqui vou escrevendo com o pouco tempo que tenho.
Aqui vocês vão lendo com o pouco tempo que dispõem.

Mas eu gosto de desafios.
Gosto de me sentir desafiado a melhorar.
A continuar a procurar mais e melhor para mim e para todos.
Mas o adversário que se presenteia como tempo não facilita.

É cruel, insensível e por muita misericórdia que lhe peçamos.
Ele não pára: É surdo aos nossos pedidos.
E lá continua ele em contagem decrescente.
E por muito que desliguemos o relógio da tomada....

.... Haverão outros que lhe ocuparão o lugar.
O tempo não perdoa.
E talvez sejamos egoístas por causa disso.
Se não acreditam, pensem nisto:

Se o tempo não perdoa, porque haveríamos nós de o fazer?
Se o tempo é surdo, porque escutamos nós?
Se o tempo avança sempre, porque olhamos para trás?
Se o tempo é presente, porque olhamos nós para passado e futuro?

O tempo é isto:
Um ser indefinido mas que define a nossa existência.
Sem ele, como provávamos que existíamos?
Mas sem nós, como se provava que o tempo existia?

Então continuo aqui a insistir.
A bater nas mesmas teclas.
O tempo passa mas eu não.
Ele passa por nós e nós cá continuamos.

E enquanto tempos.
E o tempo nos tem.
Vamos fazer o melhor para os outros.
Que o tempo se encarregará de fazer o melhor para nós.

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