quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Terapeuta Silencioso

Estava farto. Mal dormia. Sentia-me desfeito, sem forças para continuar. Sem razão alguma para reabrir os olhos, se alguma vez os fechasse. Não queria adormecer pois significaria que não estava a meio de um pesadelo. Mas o sonho era real e a virtualidade possível que havia em teres ficado esfumou-se quando finalmente interiorizei que havia acabado.

Noites sem dormir. Passeios pelos bairros e pelo rio. Queria dormir mas não tinha força para tal. Mas não. Recusei-me a dar por vencido e quis lutar. E recuso-me a falar deste assunto de novo. Apenas escrevo como sempre o faço, com o mesmo objectivo: desabafar.

Mas este texto vai ser de agradecimento. Porque começara a reparar que voltara a tornar-me no rapazito rechonchudo que ainda tinha pesadelos e que sentia pequeno e e inferior em relação ao mundo em redor. Mas assim, como me senti pequeno pequeno, senti-me observado. Como se alguém estivesse de guarda para me proteger do mal exterior.

Foi quando levantei a cabeça e te vi. Sei que já não te dava atenção há anos mas estavas ali para mim em pequeno e hoje continuas mesmo ali, me protegendo. E eu não resisti em levantar-me, tirar-te do lugar onde estavas colocado e abraçar-me a ti dentro dos cobertores.

Sempre ouviste os meus desabafos, choraminguices, resmunguices, paixonetas que tive e perguntava-te o que fazer e como fazer. Como seria capaz de ultrapassar cada dia, exposto à crueldade do mundo lá fora. Mas tu mantinhas-te calmo, sereno, pacífico e imóvel. E sem dizeres uma palavra, eu sentia. Sentia o que me querias mostrar.

Primeira noite que dormi contigo foi a melhor noite que tivera recentemente e quanto mais dormia contigo, mais me sentia apaziguado e a recuperar as forças, para ser capaz de enfrentar o dia com um sorriso na cara e sem medo do desconhecido.

Já te conheço há quê, dezassete anos? Tanto tempo... Conheço-te há mais tempo que ao meu irmão. E isso é tão reconfortante saber que estiveste sempre aqui. Mesmo que eu te fosse ignorando, estiveste ali quando mais precisei. A idade já se nota em ti mas mantiveste a tua postura inalterável e sempre serena, tão característica de ti.

E hoje te abraço. Posso já não te agarrar tão fortemente nem com tanto medo como quando o tive quando te conheci mas continuarás a ser especial para mim. E espero que um dia te tenha a oportunidade de te apresentar a um filho meu e que possas tomar conta dele como tomaste conta de mim.

Obrigado por estas sessões. Obrigado por todas as vezes que me tiveste de aturar e sem ti, ambos sabemos que seria uma pessoa muito diferente. Obrigado por me ensinares a ser paciente e calado, para poder aprender a apreciar as coisas simples da vida e não andar preocupado. Obrigado, podes não ser o maior mas és o melhor amigo que poderia ter tido. Até ao próximo abraço.


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