Sombra vs Nobre VS Eu = amor?
A perturbação de identidade dissociativa (PID), anteriormente denominada perturbação de personalidade múltipla é uma perturbação mental caracterizada por pelo menos dois estados de personalidade distintos.Na maioria dos casos verifica-se amnésia dissociativa: incapacidade de recordar eventos diários, informações pessoais importantes ou eventos traumáticos de uma forma que não pode ser explicada pelo esquecimento normal.
(Mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_dissociativo_de_identidade)
Estima-se que pelo menos 1% da população sofra desta patologia.
Mas aqui ninguém veio receber uma lição de ciências.
Mas sim um texto mais poético, romântico, feliz, triste. Aqui vai ele.
Hoje falo de um tema que me é especial. Eu sofro parcialmente desta patologia, embora os médicos nunca tenham conseguido provar a sua existência, eu oiço vozes e tenho pensamentos frequentes que não são meus mas só eu os oiço e só eu os tenho e que me despertam muitas noites e fazem sobrepensar na vida e nos acontecimentos. O que justifica eu estar sempre cansado e ter umas olheiras enormes pela manhã. Ainda pensei que fosse o meu anjo da guarda mas acho que trata-se de algo maior.
Eu consigo me dividir em 4 pessoas diferentes:
FILIPE:
Boa pessoa. Simpático, pronto a ajudar os outros, pessimista por natureza mas acredita na felicidade e em contos de fadas e no felizes para sempre e frequentemente coloca-se em segundo plano em relação às pessoas à sua volta.
NOBRE:
Pessoa mais semelhante que eu conheço é o Juan Casanova. Carismático, sedutor, consegue qualquer mulher em pouco tempo, nada sério quer, apenas sexo, seja com uma, duas ou milhares de mulheres (ao mesmo tempo ou por ordem de chegada). Apenas se diverte, é feliz, pensa positivo, é maroto e flirta bastante, tudo em prol de mais umas festas privadas.
SOMBRA:
Reservado. Indiferente. Só quer fazer a vida dele pacificamente. Casa-trabalho-casa-repetir. Só quer ganhar o seu, passar o dia a fazer o que gosta, o que contempla várias coisas, desde filmes a jogar. Prefere evitar dramas e não quer saber se magoa as pessoas ou não pois não deixa que ninguém se aproxime pois pessoas são complicadas. Gostava de ter animais de estimação.
FRICK:
Este é o pior deles todos. Vingativo por natureza, faz o que for preciso para estar bem, mesmo que implique fazer a cabeça em água a outras pessoas, não se importa de magoar quem quer que seja, até lhe dá prazer ver a dor nos outros e só está bem quando os outros estão mal, pois coloca-se num trono alto onde todos irão convergir pois será o único bem e que lhes poderá dar conselhos. Mas vive em função da vingança.
Este quarteto nada fantástico faz parte de mim desde muito novo. O Filipe sempre foi o melhor e sempre teve domínio 95% do dia. Mas há situações em que ele é atirado para o banco de trás de um carro e fica preso com um cinto, não conseguindo chegar ao condutor que passou a ser outra das personalidades, apenas resignado a ver o caminho e esperando não haver despistes, embora por vezes eu mesmo me liberte do volante voluntariamente.
Exemplos práticos:
Quando conheço uma mulher que estou interessado, fico tímido, calado, em silêncio e não sei o que falar. Por texto é fácil mas ao ao vivo, pareço um elemento de decoração da paisagem do que outra coisa. Aí peço ajuda ao Nobre, que salta no seu tom espanhol e sabe o que dizer para derreter os corações das mulheres. Mas claro, é fundamental não dar muito tempo ao Nobre ou arrisco-me a ser só sexo sem hipótese de uma relação amorosa séria, que é algo que eu quero.
Quando se apodera de mim um sentimento de vazio e apatia, nada me apetece fazer e sinto as sombras subindo e me deixo ir, deixo o Sombra tomar conta e apenas deixo a música tocando e me deixo embalar no chão do quarto, sentado num canto escuro ou mesmo à porta da casa do meu melhor amigo, na estrada de terra batida, encostado ao carro. São momentos em que tenho a mente vazia, sei que a música toca mas não sei o que toca nem o que oiço nem o que penso, sei o que acontece antes de me deixar ir e o que acontece quando me quebram o hipnotismo a que fui sujeito.
Quando vejo que garanhões têm mais que uma namorada e eu nada, aparece o demónio do Frick, que arranja o número das duas ou três, dá os números umas às outras e obriga elas a falarem e perceberem que foram enganadas. Os garanhões lá ficam à toa que em vez de perderem uma, perdem tudo e ele se ri, feliz do seu trabalho. Mas não é um mar de rosas, pois esta besta já chegou a aparecer na primária e porque um colega meu estava brincando na aula, decidiu apresentar-lhe a testa à mesa com toda a força, em plena aula. Escusado será dizer o que apanhei depois...
Não digo e conto isto para vos afugentar. Não.
Conto isto para mostrar que é difícil mas não é impossível viver com isto e eu descobri que as artes ajudam a controlar e aproveitar estas personas interiores, principalmente artes de representação e escrita.
E no meu dia a dia, o mais difícil é mesmo um relacionamento. Porque tenho medo que alguma delas se revela a alguma possível namorada e estrague tudo (já aconteceu revelarem-se e não foi agradável o desfecho). Mas sei que quando estou a namorar, nenhum dos outros três aparecem por uns tempos. Lá no fundo, estamos todos a contribuir para o mesmo, para a felicidade conjunta. E embora tenhamos os quatro opiniões diferentes sobre como ser feliz, sabem que quem manda é o Filipe e o Filipe quer ser feliz, casar ou não, mas ter uma mulher que o ame e ele a ela, filhos e viverem felizes para sempre.
E é escusado virem com discussões comigo porque tenho só ganham se eu deixar. Basta libertar uma das outras mentes e haverá cowboyada da certa. E de certeza que não liberto a última.
Porque francamente não sei o que é pior:
Amar e não ser amado?
Comer e deitar fora?
Ser amado e querer lá saber?
Vingar-me do mal que fizeram?
Não sou uma pessoa perfeita mas sou uma pessoa honesta que procura felicidade.
E se alguém quiser falar, eu estarei disponível sempre.
É para isso que servem os amigos.
Portem-se bem.
Tenham um óptimo dia.
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