Sabem o que é ter o vosso sonho transformado num pesadelo e não terem nenhum controlo sobre ele? Provavelmente sim. Hoje tive um pesadelo. Pesadelo esse que era um sonho há tantas noites atrás.
Sonhei (não existe verbo para ter pesadelos porquê? Talvez porque o ser humano não esteja pronto para verbalizar o que experienciou. Não deixa de ser um trauma) que a minha ex me tinha enviado mensagem e queria-se encontrar comigo.
Dou por mim a ir ter com ela e sem um palavra, ela abraça-me forte e pede-me desculpa. Sinto aquele rio de lágrimas a escorrerem-lhe pela face abaixo até me tocarem no pescoço. Fui desarmado facilmente, pois dou por mim a devolver o abraço forte. Ela pede desculpa e diz que se arrepende de me ter abandonado e que desta vez irá resultar.
Quis dizer não mas dou por mim noutro cenário, não conhecido. Uma sala de cinema? Parece que sim. Nem sei qual era o filme, mas para o que sentia, só podia ser um de terror (mas esses filmes eu gosto, tal como o novo Alien: Convenant). Mas este terror era maligno pois ao meu lado, estava ela com um cobertor e tapa-nos os dois.
Ela tenta desapertar-me o cinto mas eu resisto. Mas parece que ela tem mais força que eu e consegue tirá-lo. Ela tenta subir para cima de mim mas eu viro-me para trás e peço ajuda, que isto não está correcto, que todos sabem que isto não resulta, que não é real. Sinto ela a cair ao chão e a cena fica escura.
Nada vejo. Tudo escuro. Apalpo a área e encontro o telemóvel e leio: cinco horas e trinta e três minutos da manhã mas um olhar mais observador repara que me esquecera de colocar o despertador. Lá o coloca para dormir mais noventa minutos, esperando não ter de ver o resto do filme que começara. Desejando não ter de o ver.
Talvez por isso tenha deixado de dormir e ficado desperto. Sentia-me cansado mas aliviado por não ter de repetir a experiência. Estava a transpirar bastante mas o vento que entrava pela janela a dentro era gelado. Mas estava quente. Demasiado quente. Tentei afastar qualquer pensamento dela e comecei o dia de forma normal. Silêncio no resto da casa. Era o único acordado àquela hora, a preparar-me para mais um dia de trabalho.
Já lá vão dois anos. Porquê ela volta à minha mente? Porquê agora? Eu não acredito em segundas chances. Se não resultou à primeira, porque resultaria à segunda? As pessoas são as mesmas. As pessoas não mudam, adaptam-se. Podia correr melhor desta vez mas o fim seria o mesmo, pois mais cedo do que na primeira vez, as pessoas revelariam-se vilãs e tudo aconteceria numa espiral desastrosa e dolorosa. E eu já tenho idade e juízo para saber o quão doloroso foi para mim, para não querer passar por tal.
Ainda sei o número dela de cor. Infelizmente, é algo que provavelmente nunca esquecerei. Mas por muito que tenha apagado as coisas dela, mensagens, roupa, presentes, há algo que não consigo apagar: As memórias. Infelizmente, elas se manterão até ao fim dos meus dias. Bem gostava que isto fosse um jogo que tenho tido o prazer de jogar (Remember Me, para a PS3): podíamos manipular as memórias uns dos outros, até mesmo alterá-las ou apagá-las. Eu pediria para apagar toda e qualquer memória dela em mim. Talvez fosse o melhor.
Mas a vida não é um jogo. Não temos pontos de gravação. Não temos checkpoints, não temos o botão de reiniciar o nível ou até mesmo o jogo inteiro. Tenho de viver com ela presa nas minhas memórias, flutuando e aparecendo quando bem lhe apetece. Mas se há sítio em que ela não entra, é no meu coração. Esse está livre, remendado e pronto para amar outra pessoa. Não sei onde a mulher que tomará bem conta dele mas sei que, quando a encontrar, finalmente poderei descansar, sabendo que a minha ex finalmente será capturada e embalada numa das caves mais escuras que tenho da mente, sem opção de sair. Tal como deve ser.
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