segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

De Volta Ao Poço



Splash splash splash.
Frustração toma conta de mim. Já não sei quanto tempo passou, se dias, se horas ou se meros minutos.
Tempo torna se relativo e eu conformado. Ainda luto mas começa a haver cãibras, cansaço.
Chorar não ajuda, só aumenta o nível da água. E a Elsa e o Fabien vieram em má altura.
É o que dá gostar de andar à chuva. Bastou um rajada de vento mais forte e foste ao chão e a água te levou até a este poço onde te encontras,
Preso, vês o céu cinzento por cima de ti. Esperas que volte a chover para a água subir e tu poderes sair. Não tens pé mas tens estado a tentar te apoiar na parede circular mas sem sucesso.
Queres tanto escapar, desejas tanto fugir e voltar a estar no conforto da cama, no calor do edredão e no apoio eterno da almofada.

Acorda, não podes aui adormecer. Cansaço não pode vencer. Há que lutar. Ao menos se passasse alguém. Com este tempo ninguém passa e acho que não tens voz mais para falar quanto mais pedir auxílio.
Queres tanto escapar deste buraco que cada vez mais parece que a entrada está a afastar se.
Bolas, o corpo está a ficar hipotérmico. Estou a ficar pesado.
Mal sinto as mãos e as pernas. Será que ainda tenho pernas? Não me ponderei a hipótese de haver algo aqui comigo em baixo.
Não, não é bom entrar em paranóia.
Nunca mais chove, só faz nevoeiro e frio.
Telemóvel não funciona. Já teria chamado alguém para me salvar.
Mas se nem isso dava, uma musiquinha para entreter e dançar podia ajudar, nem que fosse distrair.

Vasculho os bolsos, pasta de papel e mais papel. E algo remanescente de um barco de papel. Endireito-o melhor que posso e coloca a flutuar. Ele oscila pelas ondas por mim criadas mas acaba por se afundar devagarinho e desaparecer sem deixar rasto de que existiu. Será que existiu? Existo eu? Não serei eu um pensamento solto numa mente alheia?
Se calhar é isso, é a outra pessoa a apagar-me da sua existência. Se nada fizer, também irei sucumbir por baixo deste  lençol aquático.

Poderás salvar-me?
Por favor, salva-me...

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