Pip.........Pip...........Pip..........Pip...........
Não sei se estou acordado.
E não consigo perceber.
Acordo. Transportes. Trabalho. Transportes. Cama.
Uma rotina diária que não me faz sentir vivo.
Isto não pode ser viver.
Sinto que me mexo mais por obrigação do que por vontade.
Que já faço tudo de forma automática de forma a chegar ao fim do dia, ao fim-de-semana e ser eu mesmo.
Mas não é possível ser vivo só dois dias por semana.
Tenho mais cinco que me fazem questionar se ainda controlo o meu corpo, a minha mente.
A única certeza que tenho é a de um apito.
Pip......Pip.....Pip.......Pip.......
Eu lá o oiço e parece não incomodar mais ninguém.
Só o oiço no trabalho.
Será que é porque é o sítio onde menos me sinto vivo?
O sítio onde eu menos me sinto ... eu?
Este apito constante, com intervalos regulares e equidistantes faz-me lembrar o apito que ouvimos das máquinas prestam suporte de vida aos doentes internados em coma.
Aqueles que, se puxarmos a ficha, o apito deixa de ser intervalado e passa a ser um constante apito, um apenas prolongado e doloroso piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
Quem me garante que não estou em coma neste momento?
Quem me garante que estas palavras que aqui partilho são verdadeiras?
Tudo isto pode ser fruto da minha imagnação e é apenas o meu cérebro a dar razão de existência a si mesmo, para não sucumbir à lei da Natureza e adormecer eternamente.
Até posso ser alguém mais novo, que não se viu envelhecer, que nunca viajou, que não namorou, que nada fez que o marcasse.
Pode ter acontecido algo e esteja apenas a viver um sonho do que poderia ter acontecido.
E aquele apito constante é apenas a única realidade que me prende a este corpo e me relembra que posso ainda um dia acordar.
Mas nunca sabemos o nosso destino. Podemos estipular algo e lutar por ele mas não controlamos os factores externos a nós e são eles que decidem o nosso caminho.
Por isso, enquanto acordo ou não, vou aqui desabafando.
Pode ser que um dia oiça o médico ou a enfermeira a chamar por mim.
Pode ser que um dia oiça apenas o prolongamento do apito.
Ou pode ser que me mantenha assim, para o resto dos meus dias.
Pip.........Pip........Pip............Pip.......
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