quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Pá a Dobrar



Este combate está marcado para uma derrota. E é um 2 para 1 enterrado Vivo.
Apresentando primeiro, Filipe Gomes. Lá vou eu, mais um dia, nada de novo.
Passo este portão receando não voltar, receando do que vou enfrentar. Engulo o medo,  limpo a cara e corrijo a postura, nada de ter medo de ir à luta quando em causa o prémio é a felicidade na paz e sossego.

E os seus adversários, Pá. A neblina nocturna se intensifica enquanto esse nome repete se pelo eco nas lápides envolventes e mais distantes.
Nada vejo em minha frente, em meu redor.  Apenas campad abertas para onde escorre a água.

Torna se quase irónico o simbolismo entre vocês e a Pa. Sempre lá tiveram para as pancadinhas nas costas e depois para cavarem me a sepultura.
Qie emoção, que ternura.
Mas desta vez, não chegou o meu momento..


Vieram a correr, com duas pedras na mão cada um de vós.
Lançam uma que me faz baixar mas não vi a outra partir que me acerta no peito.a dor é grande mas levanto me a custo e lateralizo para não ser empalado. A lápide atrás de mim se parte. Aqui jaz __________ enterrado e morto aqui. Nada bom sinal.
Só aguentar até a manhã nascer.

Continuo a recuar, a estudar a estratégia.
Ao início parece um trabalho duplo mas percebo que apenas estão a capitalizar sobre cada ataque parceiro e não necessariamente a trabalhar em equipa.

Sei o que tenho de fazer.

Terei de confiar nos instintos. Terei de me aproximar mas cada lado tem uma pedra ainda.
Quase certo que vou levar pedrada mas é preciso para fazer luto e seguir caminho.
Decido ir ao lado mais frágil.
Corro na sua direcção e lá veio a pedra a voar. Meti a mão à frente que a bloqueou mas apanhou parte da minha cabeça. Não para e continuo e bem ela virou se para correr mas saltei e a derrubei no chão.

Esperneava, mordia, tentava cotoveladas e cabeçadas mas a prendi bem e me virei. Não vi a sua metade. Levantei nos do chão e a usei como escudo. Em direcção à campa aberta, tenho um feeling.

Bem dito bem certo, lá está o resto do espectro com a pedra na mão que sem pensar duas vezes a atirou e falhou, acertando na minha refém que cai redonda no chão.
Naquela fracção de segundo vi todas as memórias que tive com ela esvoaçarem me nos olhos dela. Senti... Pena...

Virei me mas recebi uma pedrada no olho esquerdo. Ficou lá entalada e em dores agonizantes. Rodei a cabeça para o lado esquerdo para poder ver e  já só vi ela com a lápide em cima erguida.
Ajoelhei me, sabia onde estava e senti primeira metade me prendendo os braços que em nenhuma força fazia. Vi a lápide descer, fechei os olhos e nada senti mas lembro me de cair.
Acordei dentro de um caixão e ouvia barulho. Barulho... De terra caindo em cima do caixão. Não me conseguia mexer. O caixão era pequeno demais para mim. Tentei abrir a porta mas não conseguia. Até deixar de ouvir som. Até deixar de sentir algo. Até fechar os olhos. Até me deixar levar pelo abraço escuro do que me esperava. Tinha perdido. Estava perdido. E perdido ali ficara. Pá ante pá, terra ante terra, ali jazia eu.









Mas sei o que fazer...

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Orgulhosamente Infantil

Quem sente orgulho em si, é feliz. Nada de errado com isso.
Quem é orgulhoso, não é boa gente.
E a fronteira entre ambos praticamente não existe, é tudo uma questão de contexto.

Porque uma coisa é ter orgulho em algo, outra é não fazer algo devido ao orgulho.
Isso não é amor próprio, é não ter medo.

A ausência de medo não é uma característica humana. Qualquer pessoa tem medo. Seja de aranhas, de (cair de grandes) alturas, da morte, etc. Mas alguém demonstrar que não sente medo não é alguém.

Todos temos medo, até de amar. De sermos amados. De sermos rejeitados. Há quem lide melhor com isso, que pega no medo e o transforma em adrenalina e diverte-se. E há quem, como eu, se esconda do medo, cerre os punhos e olhos e espero que o medo abandone o local.

Mas o medo fica lá sempre. E é tão mais fácil ficarmos na zona de conforto do que arriscar sermos felizes.
Pois entre a nossa zona de conforto e a felicidade há um abismo (no meu caso sem fundo porque tenho de cair de grandes alturas) e a única maneira de atrevessar é por um ponte de corda e madeira já velha e partida partes desfeitas, onde range, abana-se ao sabor do vento e parece que pode cair a qualquer momento com o peso de um saco de arroz do supermercado local (não há cá publicidades).

E quem é feliz é quem consegue enfrentar os seus medos. Com mais força de vontade que o habitual ou mesmo com ajuda de alguém, atravessando consegue-se ser feliz. Mas o medo daquele percurso nos impede de ir.

E o orgulho é achar que somos superiores, não temos medo, a felicidade é que tem medo e deve ser ela a atravessar a ponte e vir ter connosco à nossa área de conforto. Ninguém sabe o tamanho da ponte que tem. Pode ser uma ponte que demora anos a atravessar. E quanto maior a ponte, maior o medo em querer atravessá-la. Até podemos ir ganhando confiança a meio caminho mas alguém pode estar na fila lá atrás e começar a atravessar e a ponte começar a ceder.

Então agarram-se ao orgulho e saem da fila. Não deixam ninguém avançar na fila mas não avança, fica ali, ordenando que o Senhor Felicidade faça a travessia.

Isso não existe. Nenhuma felicidade vem sem medo ou esforço. Ninguém do nada deixa de ter medo e está feliz. Há muito que se passa no meio, inclusive dar um pontapé no traseiro do orgulho e abraçar o medo e empurrá-lo pela ponte fora até chegar ao outro lado.

Nunca deixem o orgulho levar a melhor. É preferível ter orgulho em enfrentar o medo pela felicidade do que aceitar o orgulho e ficar parado esperando. Pois a felicidade está ali, como de repente pode não esperar mais.

Sejam felizes.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Tua Voz


Liguei-te a esta hora.
Comprometida, eu sei mas não deixas de especial para mim.
Passaram-se anos mas não deixas de me ser especial e única.

Tens outra pessoa. És feliz e fico feliz por seres feliz.
Só me sabe bem falar contigo e ouvir a tua voz.

Falando contigo o tempo pára. Deixas de ter sono. Deixo de ter frio. Não me deixas ir para casa. Não te deixo adormecer.

Horas passam e nós em chamada. Qual o tema? Um qualquer? Não me recordo. Só me sabe bem ouvir a tua voz. Sabe bem imaginar-te ali comigo a falarmos.

Sempre gostei dos teus abraços. E tu dos meus beijos. Não queríamos o mesmo. Mas sentíamos o mesmo.
Mas afastámo-nos. Mas voltávamos. Nos chateávamos. Nos perdoávamos. Acontecesse o que acontecesse, voltavamos a ser melhores amigos e a pertencer à vida um do outro.

Sempre melhorámos a vida um do outro. Temos pouco em comum. Excepto o brilho do olhar. Seremos par de pó espacial que veio no mesmo cometa?

Gostava de te segurar a mão, encostar a minha outra mão à tua face, sentir o teu abtimento cardíaco e me deixar adormecer no teu ombro. Tu gostavas, sempre te aninhaste no conforto do meu peito, no espaço deixado entre os meus braços e o teu corpo.

Percorrer os teus fios de cabelo com os meus dedos e te sentir a fechar os olhos e te deixares adormecer, com a confiança e segurança de que mantenho viva a esperança de um dia não acabe esta dança...

Sabe bem ouvir a tua voz.
Devias ligar mais vezes.
Devíamos nos ver mais vezes.
Mas não dá, esqueço-me que és comprometida.
Não posso andar a ver locais de viagem de Lua de Mel.

Já admitiste que gostavas de mim naquele passado. Eu sentia algo por ti. Mas prometera-te que não te iria magoar e não quereria estragar a amizade e arriscar em algo não recíproco.

Não nos deixámos levar pelo momento. E o momento levou-nos o que quis de nós. Quem sabe no futuro? Não deixas de ser a melhor mulher com quem tive a honra de contracenar nos bons e maus momentos, na saúde e doença...

Cá te espero.
Não deixas de ser a minha fantasia favorita. E um dia, talvez... talvez sejas a minha única fantasia ;).

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Reset... Prima Para Continuar...

Mas tu ama-la?
Não, mas...

Mas o quê?
Eu...

Não te atrevas!
Mas...

Nem mas nem meio mas. Não é não.
Não mandas em mim!

Mando sim! Somos feitos da mesma carne e sangue e temos uma ligação espiritual forte. Por muito que me apetecesse estar fora e te espancar.
Vai-te foder! Senta-te nu em cima de um cacto!

E faria-te feliz?
Muito!

Ambos sabemos que mentir é feio e não foste educado assim.
E também sabes que estou farto de te ouvir.

Lamento mas enquanto tu respirares, cá estarei sempre para te ajudar a ver a luz.
Luz? Só Sombras contigo. (Sustendo respiração).

Pronto, lá somos crianças. Oh cutxi cutxi, eu espero.
(sustendo respiração).

...
...

...
...

...
ããããã...

Pronto, agora que já paraste, vamos lá recomeçar do zero.
Não gosto deste jogo.

Tem de ser.
Mas dói.

E vai sempre doer porque gostas que doa. Se fosses mais forte pouco ou nada te deixavas magoar.
Mas sinto que mereço.

Mereces levar nos cornos e não me vês a fazer isso sempre.
Está bem mas não tenho jeito para isto.

Repete comigo: "Até agora sou um banana".
Tenho uma.

Repete!
"Até agora sou um banana".

"Mas a partir de agora já não serei!".
"Mas a partir de agora já não serei!".

Promete Zeca.
Chamo-me Filipe.

Filipe...
Prometo.

Promete como deve ser.
Prometo que não me vou deixar espezinhar por mais alguma mulher.

Filipe...
Prometo não me deixar levar pelas emoções mas sim pela razão, por mais que custe.

Pronto para o reset?
...Sim.

.
.
.
.
.
.

(Iniciando Reset... Loading... Time Estimated: ??h??m??s)

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Corrigir Passados


Prefiro amar e ser rejeitado do que nada sentir.

Prefiro sofrer do que nada sentir.

Não há amor sem dor.

Não há dor sem amor.

Não me arrependo do que faço.

Arrependo-me da dúvida, do medo, do "E se.?"

Tenho dúvidas.

Tenho receio.

Tenho vários "E se...?"  "E se...?"  "E se...?" "E se...?" "E se...?" "E se...?" "E se...?" "E se...?" "E se...?" "E se...?"....

Vários, demasiados, repetidos, em coro e desafinados a alimentarem a minha insegurança. 

O coração aperta de por sentir o pensamento doloroso a arranhar por dentro, a querer escapar, a querer rebentar comigo mesmo.

Sorrio para esconder-me a mim.

Sorrio mas não sou eu.

Eu não sorrio.

Eu escondo.

Eu escondo a verdade, omito a mentira, tapo a boca e fecho os olhos.

Custa-me ouvir o meu reflexo.

Ver ele a esticar a mão para o meu peito, baixar o olhar e ver o buraco que ali tenho deixado.

Levantar os olhos por entre o meu cabelo longo e espreitar.

Observar, contemplar, aceitar que à minha frente está aquilo que perdi.

Que troquei o meu ser pelo vazio.

Que aceitei a troca sem pensar duas vezes. 

Que a aceitei sem pensar.

E olho para o vazio e vejo-me de coração mas mãos.

Vejo-me mais velho com a mão no ombro do eu mais novo enquanto ele me entrega o coração de volta.

Ele bem o tenta encaixar mas não cabe.

Cicatrizei.

Magoei.

Chorei.

Gritei,

Arranquei mais de mim que pode alguém imaginar.

Afasto-me de mim. 

Afasto-me do que fui.

Afasto-me do que serei.

Afasto-me.

Não me reconheço ao espelho.

Foda-se o espelho.

Soco, soco, murro, murro, gancho, ganho, cotovelada, cotovelada, cabeçada e cabeçada.

Pedaços partidos voam.

O espelho sangra.

Eu choro.

Olho em frente.

Vejo-me a reconfortar a mim. 

A dar um abraço forte eu mais velho ao eu mais novo.

E encosta a palma no espelho.

Corto-me, sangro mais.

Vejo vermelho, sinto-me azul, vejo-me branco mas sinto-me transparente.

O espelho cai e parte-se de vez.

Dele brota uma corrente vermelha.

Nos pedaços de vidro soltos vejo pedaços de coração, partidos sem remédio.

Os meus pedaços.

Tento os apanhar.

Corto-me mais.

Insisto.

Dói.

Insisto.

Dói.

Insisto.

Insisto.

A dor é passageira.

Eu sou um passageiro.

Eu deixo-me ir pelo momento de felicidade espontânea.

Daí não me preocupar com as consequências.

Daí sofrer.

Daí ter prazer.

Prazer em Sofrer?

Não, Sofrer por Prazer.

"As Long As There Os Love And Memory, There Is No True Loss".

Engraçado.

E dizem que heavymetal não ensina nada...

Será que ainda vou a tempo de aprender?

Diz-me...

Diz-me.

Diz-me!

DIZ-ME!!!!

IREI EU APRENDER?

A resposta é não.

Irei cometer os mesmos erros.

Irei fazer as mesmas asneiras,

Porque só assim me ensinei a amar.

Só assim me permiti ser amado.

Odeio-te Espelho.

Por mostrares tudo e mostrares o nada.

Por dares esperança no futuro.

Por me dares orgulho no passado.

Por me fazeres ver que é possível.

Luta por mim.

Cola-te por inteiro de novo.
Cola-te...

Que eu vou fazer o mesmo comigo.

E juntos seremos felizes.

Juntos...

Prometo...

Não saias de mim.

Que eu não voltarei a abrir mão de ti.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Razia na Emoção sob o Entrave da Razão

Convidas te me a dormir debaixo dos lençóis, observados a manhã toda com a tensão no ar.
Nada fizemos, porque esperávamos o avanço do outro ou talvez mais por não termos o desejo espontâneo.

Era até ao almoço, depois seguia a minha vida. E no entanto aqui ando eu seguindo a tua rotina.

Fui contigo conhecer as pessoas e locais onde passas mais tempo, também fui a outros lado onde fiquei no carro esperando, sendo este um deles.

Admito que sinto desejo por ti mas nada fiz porque naquele momento eu queria uma manhã de amor do que uma sessão de prazer.

Queres que faça uma tatuagem, queres que faça parte da tua vida, mostraste me as tuas mágoas, dores e saídas.

Foste desarrumar mobília só para me mostrar os teus álbuns de família, desde tu pequenina até agora já crescida.

Esqueco me que és romântica também e que tens uma veia de poeta.
Podes sentir que não tens jeito para palavras e no entanto sinto tanto sentimento em cada letra que li que só me apetecia chorar e te abraçar.

Mas contive me. Porque tu não queres me demasiado perto, queres me apenas para mais um. E eu acho que não quero isso. Acho que quero algo mais. Mas nunca felizes são os meus finais. Apenas escrevo aqui pois sei que nunca irás ler. Se soubesses o que dizia, já me tinhas mandado dar uma volta pela linha

Ainda faço asneira e tu me reviras os olhos.
Tu sabes que te quero mas tens medo do que queres sentir.
Agarras te ao passado, a outro homem que juraste ser o homem da tua vida.

E eu tenho de respeitar e aceitar essa decisão. Não posso deixar de te dar razão.
Tenho de controlar a minha emoção, embora transpareça a minha desilusão.

Não contigo, não.
Comigo apenas.
Porque tu pediste para não me apaixonar.
E se eu não estou apaixonado, porquê fui dormir contigo e em vez de te chegar ao corpo quis chegar ao teu coração?

Sei que me vou magoar, a dor é lixada mas olha que se foda, mais uma dada fora da caixa. Nasci para amar, vivo para sofrer, não te consigo fazer apaixonar mas consigo me fazer desaparecer.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Última Paragem: Dor


Vou na 1ª carruagem, junto à porta do maquinista. O dia foi comprido e agora que toda a gente saiu, posso relaxar e deixar o comboio ir em linha recta sem preocupação. É crime? Talvez seja tanto crime como eu cortar uma árvore no meio da Amazónia: só é se alguém vir.

Eu nem sei que horas são mas sei que as luzes lá fora são esporádicas e eu desliguei as luzes de dentro para estar no escuro, para me moldar ao que há em meu redor e o meu redor me absorver e aceitar como mais uma mancha escura num quadro preto.

Não faço questões de abrandar a locomotiva. Sei que a esta hora pouca gente me ouvirá chegar e ninguém me verá a partir. Deixei a porta da frente trancada e a chave do lado de dentro. Apenas vou deitado no chão em movimento sabendo que a qualquer momento irei entrar na estação final e chocar contra a barreira e continuar. Não espero sobreviver, espero que me doa e bem. 

Mas até lá a viagem vai serena, calma e até satisfatória. Será assim que somos transformados quando nada mais damos ou recebemos? 
Em breve irei descobrir mas irei fechar os olhos.

Podia saltar do comboio, uma vez que estou atravessando zonas de lagos e ficava bem. Podia partir o vidro da porta da locomotiva com o extintor mas não quero apagar nada. Não quero apagar o que sinto por ti.

E por sentir o que sinto, deixo-me ir, levantando-me aos poucos, respirando fundo de pulmões bem cheios de ar e fumo do transporte.

Já começo a ver as luzes ao fundo a serem mais contantes. Já vejo que está a chegar a hora de descarrilar. Acabo por me meter em pé e meto ao bolso. Pego no teu maço de tabaco e tiro um cigarro e coloco o maço de volta ao bolso, substituindo-o por um isqueiro também teu. Tu deves ter dado pela falta mas não me questionaste se os tinha.

Nunca fumei e decidi ter uma parte de ti na hora do meu fim. Levo o cigarro à boca e acendo o isqueiro. Inspirto fundo e liberto o fumo. Acabo por tossir e dizer algumas asneiras. Nunca fumei e já me lembro porquê. Odeio o sabor, o fumo, a vontade de me vomitar todo por sentir os meus pulmões a tentarem trabalhar. 

Decido  pegar no isqueiro e atear alguns assentos e cortinados. Não demora muito até a carruagem estar a arder e a se desfazer. Agora sim, consigo fumar melhor. O gosto e fumo do cigarro é mais agradável que o cheiro a fumo de metal e ferro queimado.

Já falta pouco, penso eu enquanto o comboio continua a ir rápido e comeca a oscilar com as curvas e a querer levantar da linha. Mas tenho fé. Fé que tudo vai correr bem. Que a fé me move neste momento e não apenas o comboio em si. Já vejo as plataformas. Deixo o cigarro ir ao chão e piso-o. Não faz diferença para uma carruagem a arder mas para mim estou-me a despedir de ti. 

Não foste um degrau na minha vida mas sim quem me elevou mais. E tive de não ter resultado. Por isso, nestes últimos segundos, enquanto a minha farda começa a arder, eu respiro fundo, elevo os braços em aceitação e me despeço de ti. Porque como não me aceitaste, não interviste, não procuraste, sei que a barreira pouco me fará de bem. Adeu...

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Se Ao Menos...


Se ao menos eu te tivesse esquecido.
Nada disto teria acontecido.
Se não te tivesse conhecido.
Talvez tivesse mais vezes vestido.

Passaram-se tantos anos.
Oito para ser mais preciso.
Procuraste-me por todos os cantos.
Deixaste-me indeciso.

Voltaste atrás.
Como foste capaz?
Depois da toda a tortura.
Trouxeste-me uma nova aventura.

Entre a dor e o ardor.
Das tuas dentadas e amarras.
E o sabor do teu calor.
Nestas noitadas de arruada.

Seja cego ou surdo.
Espetado um prego, eu te rego.
Me entrego a ti, não te consigo resistir.
Contigo eu existi e não planeio em agora dormir.

Se a saudade matasse.
Não me deixava que me enterrasse.
Apenas quero ser feliz.
Encostado ao teu nariz.

Não me vou magoar.
Mas de ti não irei abdicar.
Vou-me esforçar.
Para te fazer de novo apaixonar.

Seja na minha casa ou na tua.
Seja sobre a asa ou sob a Lua.
Não me basta te ter nua.
Por ti, irei à luta.

O passado veio à flor da pele.
O presente me impele.
Aqui estou e não planeio voltar as costas.
Excepto quando me pedes, pois sei que tu gostas.


Os anos passaram...

As saudades ficaram...

Eu confio em ti assim para mim...

Deixa-me entrar, diz-me que sim...