segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Ligação 5.3

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"Eu não tenho uma vida romântica, quanto mais uma saudável." - Excerto de todos os não-sociais, como eu.








Cinco da manhã. Três meses depois. Estava com alguma dificuldade em dormir. Mas qual era a novidade disso? Parece que me tenho habituado a esse ritmo nocturno. Sinto-me preso dentro de um carro, numa fila de trânsito lenta e longa. Pára, arranca. Pára, arranca. Acorda, adormece. Acorda, adormece.

Continuando, voltando ao tema: Cinco da manhã, três meses depois.
O telemóvel recebe sms e a luz pulsante e o som baixo que àquela hora pareceu suficiente para me despertar e forçar a procurar o telemóvel. Mas não o fiz. Estava cansado, queria dormir e começar a ver mensagens durante a noite e falar com as pessoas não iria ajudar.
Virei o ecrã para baixo, virei-me para o outro lado da cama e adormeci. Acordei umas horas depois cansado mas já tinha compromissos e lá despertei. Lembrei-me da mensagem de telemóvel dessa noite e peguei no telemóvel. Não conhecia o número. Mas o número era-me familiar. Talvez fosse um conhecido meu antigo e precisasse de algo. Às 5h da manhã, as hipóteses eram poucas e como não tinha carro, nada podia fazer do que dormir.

Abri a mensagem. De certeza que me daria pistas sobre quem seria a pessoa. Mentalmente foi um choque e paralisei por meio segundo, pois não esperava o que estava escrito nela. Confirmei a hora que recebi a mensagem (porque sim, isso é que era importante): 5 da manhã e alguns minutos a mais.
A mensagem tinha estes contornos: "Tenho saudades tuas. Sei que te magoei e provavelmente nem devia estar a falar-te e sei que nem me irás responder mas desculpa por tudo".
Voltei a olhar para o número e não o reconhecia. Será que foi uma mensagem por engano? Mas se o fosse, porque achava o número familiar? Por inteligência minha, guardo uma lista secundária de todos os contactos que tenho e já tive no telemóvel, num ficheiro informático, para situações em que preciso do número de um antigo conhecido ou para descobrir quem é esta pessoa. Dá jeito de vez em quando.

Abri o ficheiro. Páginas e páginas de contactos que tenho, muitos já com o números mudados e desactivados mas lá os mantenho. Enfim, activei a função localizar e comecei a digitar o número. Ao quarto dígito levei um choque. Havia pouco mais de uma dezena de contactos que correspondiam mas o seleccionado atrofiou-me. Era ela. A minha ex-namorada de três anos. A razão do blog existir. Quis parar, por medo. Se fosse mesmo ela, uma mensagem daquelas significava apenas uma coisa e eu não queria que fosse verdade. Não queria. Não podia. Não, depois de tudo o que aconteceu, não.
Introduzi o quinto dígito. Reduziram as hipóteses para sete pessoas mas ela continuava a ser a primeira. O meu coração acelerava mas a medo. "Isto não está a acontecer. Se for ela, estava bêbeda. Mas ela não bebe. E mesmo se bebesse, pessoas alcoolizadas são as que dizem as verdades, porque não pensam no que dizem e dizem o que pensam sem pensar, só a sentir.

De fora do quarto, a minha mãe insistia para me despachar, para não chegar atrasado mas eu estava noutro universo, tentando processar aquilo tudo. E se fosse ela? Como reagiria? Ficaria no silêncio? Falava? Tinha enterrado esse passado bem fundo e sentia ele dentro de mim a fazer tremer o baú onde o deixei, desejoso de sair e de me invadir com sensações que não queria sentir. Ou queria? Não, de certeza que não. Não queria voltar a passar por aquilo tudo. Não queria e não iria. Mas se seria forte o suficiente para tal?

Introduzi mais dois dígitos. O nome dela desapareceu e uma sensação de alívio acalmou-me e deixou-me em paz. Deitei-me e sorri. Sabia que não era ela e que tudo estaria bem. E quem quer que fosse, seria mais fácil e menos emocional de tratar. Vi o nome sublinhado. Era um familiar. Não fazia sentido um familiar mandar uma mensagem daquelas. Olhei para quantas opções tinha. Apenas duas. Introduzi os dois dígitos que faltavam e o ecrã só me mostrava um nome, com 100% de correspondência correcta.

E voltei a tremer. O nome que lá pertence a alguém que mexeu comigo. E tinha sido a última pessoa por quem eu tinha realmente sentimentos verdadeiros. A história é longa e pode ficar para outra altura mas essencialmente, fiz sacrifícios por ela, passei um fim-de-semana com ela e tudo coreu bem e estávamos sempre em acordo e sintonia.

Quando regressara a casa, pensei que tinha encontrado a pessoa certa. Como estava tão enganado. Pouco a pouco foi-me deixando de falar, até se silenciar e não me responder às mensagens, magoando-me. Bem feita. Mereci. Estava a dar tudo por alguém que ainda nada queria.
Três meses depois, cinco da manhã. Ela mandou-me mensagem. A dizer que tinha saudades. Que iria fazer? Responder? Silenciar-me? Apagar a mensagem? Suspirei fundo e pensei no que queria. A resposta era simples e até hoje o é: Quero ser feliz. Respondi à mensagem, mostrando que também tinha saudades dela mas não fui meigo nas seguintes.

Estava farto de ser posto em segundo plano. Então disse-lhe que tinha uma forma estranha de mostrar saudades por alguém, quando mal falava. Ela voltou a pedir desculpa. E eu perguntei-lhe sinceramente o que ela queria de mim. Se me queria a mim ou se queria apenas . . . alguém? Perguntei onde encaixava eu na vida dela? Se sentia verdadeiramente algo por mim?

Ela disse que sentia genuinamente saudades minhas mas não sabia como a via ou queria ver. Três meses inteiros depois de ter estado com ela e não sabia ainda. Iria passar por tudo de novo? Iria dar-lhe uma segunda hipótese para corrigir tudo e tentar de novo? Não acredito em segundas oportunidades.

Mandei mensagem que não estava para ser suplente de ninguém. Que não estava para esperar por alguém que nem sequer sabe se me quer na vida dela ou não. Querer quer, mas não sabe bem aonde. Para mim é insuficiente. Tem três opções: Somos amigos e tudo bem. Quer algo mais e aí terá de esforçar para me mostrar que vale a pena e voltar-me a fazer confiar e acreditar nela (depois do que me fez, tenho todo o direito em exigir). Ou seguimos os nossos caminhos separados e ninguém mais se fala. Ela que escolha. Mas não serei suplente de ninguém. Nem suplente de alguém nem refém do silêncio dela.

Nunca mais.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Quase Valenti(m)


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Era para ter saído. Mas fiquei em casa.
Tive planos mas foram rasgados à última hora.
E assim passei o dia de S.Valentim: em casa, de volta do youtube e das minhas tentativas de adiar o sono e resmungar de manhã por ter dormido pouco.

Tinha uma saída marcada. Era para ser a primeira, desde há muitos meses, quase dois anos para ser exacto. E embora não fosse fã da proposta feita, aceitei-a sem alterar uma vírgula.

Quis dar-lhe uma noite memorável porque a mulher em causa merecia. Ia ao sushi com alguém que também é fã, algo raro de encontrar nestes dias, pelo menos para mim. Teria de ir de fato mas ela levava vestido. E se o tempo permitisse, haveria um passeio pelo areal da Caparica.

Talvez antes mesmo do jantar fosse o passeio, para poder disfrutar de um pôr-do-sol lindo com ela. Mas não tão lindo quanto ela. Provavelmente, enquanto ela observava o Sol esconder-se por dentro do oceano, estaria eu a esconder-me no brilho dos olhos dela. Mas se fosse um passeio nocturno, estaríamos rodeado de estrelas e eu não saberia qual seria o melhor.

Lembro-me de quando nos conhecemos. Tímidos mas fomos nos conhecendo e descobrimos muita coisa em comum. Nada disso importava na altura, uma vez que ambos sabíamos que iríamos seguir caminhos diferentes. Mas ficaste no meu pensamento.

Ainda hoje te encontras lá. Mesmo passado seis anos, continuas por aqui, na minha mente e felizmente, voltámos a nos encontrar. Diferentes mas as mesmas pessoas de quando nos conhecemos. Sem segredos um para o outro.

Penso que ontem, a noite poderia ter sido mais animada. Em vez de videos, estaria contigo. E contigo, em dia e clima romântico, saberia que poderia tentar algo. Talvez me partisses aos pedaços depois, dada a tua experiência em artes marciais. Mas algo me diz que seria diferente. Que gostarias que tivesse tentado. Que deixarias acontecer...

As nossas conversas têm evoluído e há dias ficaste chateada quando parecia que te estava a despachar. Mas não estava. E expliquei-te que nunca te iria despachar. E coloquei aí o ponto final. Na verdade, a frase completa seria algo do género: "...eu nunca te vou despachar. Pelo contrário, queria que estivesses sempre comigo...".

Mas tenho receio. O mesmo receio de quando era miúdo e gostava de ter 100% nos testes. O receio de nunca falhar.
E apesar de ter um historial de coleccionar tampas, era diferente.
Porque és diferente. Porque és ... tu....

Espero ter outra oportunidade contigo.
Mas fico feliz por te ter conhecido e por te poder chamar...amiga.

Até já, pequena.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

4300

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Obrigado pelas quatro mil e trezentas visualizações.

Desculpem a longa espera por conteúdo.

Voltem sempre.

Beijos e Abraços da vossa Sombra preferida.

Pip



Pip.........Pip...........Pip..........Pip...........
Não sei se estou acordado.
E não consigo perceber.

Acordo. Transportes. Trabalho. Transportes. Cama.
Uma rotina diária que não me faz sentir vivo.
Isto não pode ser viver.

Sinto que me mexo mais por obrigação do que por vontade.
Que já faço tudo de forma automática de forma a chegar ao fim do dia, ao fim-de-semana e ser eu mesmo.

Mas não é possível ser vivo só dois dias por semana.
Tenho mais cinco que me fazem questionar se ainda controlo o meu corpo, a minha mente.
A única certeza que tenho é a de um apito.

Pip......Pip.....Pip.......Pip.......
Eu lá o oiço e parece não incomodar mais ninguém.
Só o oiço no trabalho.
Será que é porque é o sítio onde menos me sinto vivo?
O sítio onde eu menos me sinto ... eu?

Este apito constante, com intervalos regulares e equidistantes faz-me lembrar o apito que ouvimos das máquinas prestam suporte de vida aos doentes internados em coma.
Aqueles que, se puxarmos a ficha, o apito deixa de ser intervalado e passa a ser um constante apito, um apenas prolongado e doloroso piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...

Quem me garante que não estou em coma neste momento?
Quem me garante que estas palavras que aqui partilho são verdadeiras?
Tudo isto pode ser fruto da minha imagnação e é apenas o meu cérebro a dar razão de existência a si mesmo, para não sucumbir à lei da Natureza e adormecer eternamente.

Até posso ser alguém mais novo, que não se viu envelhecer, que nunca viajou, que não namorou, que nada fez que o marcasse.
Pode ter acontecido algo e esteja apenas a viver um sonho do que poderia ter acontecido.
E aquele apito constante é apenas a única realidade que me prende a este corpo e me relembra que posso ainda um dia acordar.

Mas nunca sabemos o nosso destino. Podemos estipular algo e lutar por ele mas não controlamos os factores externos a nós e são eles que decidem o nosso caminho.
Por isso, enquanto acordo ou não, vou aqui desabafando.

Pode ser que um dia oiça o médico ou a enfermeira a chamar por mim.
Pode ser que um dia oiça apenas o prolongamento do apito.
Ou pode ser que me mantenha assim, para o resto dos meus dias.

Pip.........Pip........Pip............Pip.......