Encontrei-te. Julgo que és tu. Quem mais poderia ser? Só podes ser tu. A vida dá voltas e voltas, ou neste caso, oferece lágrimas e dores. Lágrimas e dores que não são minhas mas que as sinto. Sinto como se fossem minhas. Como se fossemos um só. Procurei-te por toda a parte e afinal, estiveste sempre à vista. E eu estava cego por não te ver mesmo à minha frente, esperando, chorando.
Era uma manhã de fim-de-semana quando nos encontrámos. Tínhamos combinado em estar juntos e em fazer-te companhia na tua pequena aventura colorida que seria obteres mais uma tatuagem. Mas algo estava estranho. Tu estavas em dor e não transparecias esse sentimento mas do outro lado da sala, estava eu a assistir, em lágrimas, mas sem ter motivos para tal. E só quando fazias uma expressão de sofrimento, é que eu sentia lágrimas a caírem-me pelo rosto.
Fingi que estava constipado e assoei-me e limpei a cara mas veio-me à mente o facto de seres aquela que sofre e que me fazia chorar sem razão. Não acreditei mas o meu armário de memórias abriu-se e levou-me à bastantes anos atrás, quando ainda era pequeno. Pequeno o suficiente para apenas me preocupar em brincar e correr alegremente atrás de uma bola.
Mas veio à superfície a memória de que um dia, a brincar na antiga casa dos meus avós, levantei-me do chão, cheguei-me à varanda do quintal e olhei para o infinito de campos de cultivo e do vale onde o rio banhava as suas margens e ouvi uma voz interior a dizer que, quando crescesse, ficaria para sempre com uma rapariga que tinha . . . que tinha o teu nome . . .
Não te conhecia na altura nem sabia que existias. Nem conhecia alguém com o teu nome. E ninguém estava comigo quando ouvi isso. Mas sinto que ouvi na altura, sem nunca ter percebido muito bem porquê ouvi tal coisa. Eram coincidências mas nunca acreditei em tais conhecimentos aleatórios e julgo que tudo tem um propósito.
Não te conhecia na altura nem sabia que existias. Nem conhecia alguém com o teu nome. E ninguém estava comigo quando ouvi isso. Mas sinto que ouvi na altura, sem nunca ter percebido muito bem porquê ouvi tal coisa. Eram coincidências mas nunca acreditei em tais conhecimentos aleatórios e julgo que tudo tem um propósito.
E fora esses dois pedaços de provas, parte de mim tem um desejo irrealista de me casar com alguém que tenha como apelido Silva, para poder manter uma fantasia estúpida e irrealista de os meus filhos continuarem a linhagem dos Silva Gomes, tal como o próprio pai. E tu, cumpres todos os requisitos ...
Voltando ao presente e limpando o rosto com um lenço, lá terminas a tatuagem e perguntas se tudo está bem. Eu digo que sim e com um sorriso na cara, elogio a tua tatuagem e a simplicidade dela, mas cheia de beleza e significado. Agradeces e seguimos caminho. Queria-te tanto contar isto. Queria-te tanto mostrar que gosto de ti e que já sentia que estava atraído por ti desde o momento em que nos conhecemos. Queria-te tanto . . .
E não te tive. Acabámos por seguir caminhos diferentes. Parte de mim gritava para ficares, implorava-me para te agarrar pela mão, puxar-te para mim e juntar os nossos lábios. Mas eu sabia das histórias, de que usavas as tuas artes marciais que aprendeste desde infância para afastar pretendentes não desejados e eu não quis ser mais um.
Não quis nem quero fazer parte de uma qualquer estatística, como sendo apenas mais um, mais um simples número. Deixei-te ir pois quem ama, liberta. Não prende, solta. Pois se gostares de mim, hás-de voltar. E tu sabes que eu gosto muito de ti. Mas também sei que nada acontece por acaso e desconfio de um teoria que circula pela Internet e julgo que esteja correcta.
A teoria diz que, quando se deu a explosão do Big Bang, aquela que originou o nascimento do nosso planeta, nós éramos apenas átomos, ligados pela ciência físico-química e que com a explosão, fomos atirados para longe um do outro. Mas, por razões talvez científicas, nos sentimos atraídos e talvez, destinados a voltar a pertencer um ao outro, como o fomos em átomos, no início de tudo. Aliás, mesmo antes do início de tudo. E podemos já não ser o início de tudo, mas podemos ser o final feliz um do outro.