quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Abraço Solar


Como ainda não sabem, eu revelo:
Sou uma pessoa nocturna, quase vampira.
E como tal, sofro dos mesmos males que os vampiros que por aí andam:
A dor que o Sol causa.
A eles mata, a mim mói.

Sou uma pessoa que aprecia as noites e os fins de tarde (pôres-do-sol) e que sente uma certa repulsa e inconformidade com o Sol que se faz entre as 8h e as 18h (Horas Portugal Continental).
E ultimamente, esta nossa estrela tem-se revelado uma má influência pois anda quase todos os dias a embalar-me para a terra dos sonhos.
O problema é que só se lembra disso quando estou no trabalho e tenho uma postura a manter.

Para quem não consumia café, já vou quase em 3 doses diárias deste bem energético que vai ajudando por vezes a afugentar este abraço caloroso e reconfortante que recebo diariamente.
Por vezes, junto uns copos de água à cara para retirar o calor que tenho e me sentir outra vez frio e sem sono.

Saio de casa durante a noite para o trabalho e chego a ela ao fim da tarde e sinto-me bem e cheio de energia. Durante esse período intermédio, sinto-me tentado, provocado, desafiado a deixar-me ir na suave melodia calórica e abraçar a janela e deixar o solinho entrar.

Mas à noite é que estou mais acordado, quer a falar com o pessoal, quer a fazer a minha vidinha.
E apesar de ser dos poucos a viver nocturnamente, sempre gostei do silêncio da noite e da solidão que tenho.
Mas por vezes tenho quem me faça companhia a mim e à Lua e são sempre boas pessoas e pessoas boas.

E claro, tenho uma reputação de encalorado a manter.
Estou sempre com calor e o facto de ser gordo ajuda a combater o Sol e procurar a protecção da Sombra (para não me cansar nem suar).
E claro, sempre sonhei em ser Vampiro e assim vou treinando.

Mas enquanto não conhecer o Monsieur Drácula, fico por aqui a fechar as janelas do quarto e do trabalho e impedir que o Sol me encontre.
Apenas as abro para deixar-me envolver na névoa escura da Noite e do vestido branco da senhora Lua. Ou até mesmo das nuvens escuras aflitas para regar a Natureza e lavar a janela. E ali me encosto, ora a ver as gotas a correr janela abaixo, ora a ver relâmpagos ao longe, ora a deixar-me perder pelas estrelas e constelações que nos sobrevoam e nos encantam.

E enquanto vocês andam por aí acordados a ir à praia e na busca do Sol, vou à praia à noite ver as estrelas, a Lua e tentar perceber onde acaba o mar e onde começam as estrelas e a noite.
Mas talvez tudo apenas comece com a estrela certa. E até ela aparecer no meu céu, continuarei a preferir caminhar pelo areal vazio em busca de conchas e seixos para atirar ao mar e vê-los desaparecer no fundo das águas escuras e profundas daquilo a que eu posso chamar "casa".

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Cerejas

Bem, talvez seja disto que irei sentir ais falta agora que o Verão acabou. Disto e dos morangos açucarados e o melão ao fim de tarde.
Mas cerejas sempre me incomodaram, pela sua bonita inocência.
Iam sempre em pares, nunca se deixavam separar até à hora em que comíamos uma.
Era sempre uma escolha tão difícil: qual era a primeira a ser comida.

Era a que era das duas menos vermelha?
Era a que era das duas mais pequena?
Era a que era das duas mais fora de validade?
Enfim, tantas dúvidas que muitas vezes dei por mim a comer o par como se fosse um só.

Mas na vida nem sempre podemos ser gulosos. Temos de fazer escolhas e muitas delas são como este pequeno exemplo: qual a cereja que se come primeiro? A da esquerda porque é mais vermelha? Ou a da direita porque é maior em tamanho?

Mas pensamos sempre que quando comemos uma, vamos poder comer a outra em seguida.
Mas nem sempre é assim, porque surgem imprevistos (dividir o par com o irmão mais novo).
Na vida acontece igual (mas a justificação não é sempre o meu irmão mais novo):
Temos duas opções que em teoria parecem coexistir e combinar mas, devido a forças alheias, deparamo-nos com situações em que temos ambas e passamos a poder escolher só uma.

Aí escolhemos como?
Pela mais bonita?
Mais vermelha?
Pela maior?
Pela mais brilhante?

E temos de tomar uma decisão que pode ser boa ou má, que nos afecta a curto ou longo prazo.
Porque imaginem que nos davam um par de cerejas (como na imagem) mas diziam que numa delas foi injectado laxantes e nós tínhamos de dividir o par com alguém que gostamos e comer.
Vamos procurar não errar e escolher a melhor para nós. Mas também não queremos que a outra pessoa sofra.
Então procuramos a pior. Mas a outra pessoa pensará de igual forma.
E mesmo que a deixemos escolher, lá bem no fundo ansiamos que eles façam a escolha errada e que sejam eles a passar o tempo na casa-de-banho.

Como somos egoístas e gulosos, fingimos mais nada ver e escolher o melhor para nós.
Nas vossas vidas não sei, mas quando tenho uma escolha de "cerejas" a fazer, adio a decisão até à última e espero que escolham por mim, mas esperando que no fim corra tudo bem para mim. Não é que seja de prejudicar ninguém mas prefiro ter feito a escolha certa do que vir a arrepender-me de não ter escolhido a cereja certa.

Resumidamente, escolham a cereja que mais vos agrada e sejam egoístas de vez em quando. E quando digo cerejas, digo opções do dia-a-dia.
Porque é preferível escolher mal do que deixar alguém escolher por nós e levar a melhor opção com ele, quando lá no fundo, queríamos escolher essa desde o início.

Cerejas, até ao próximo Verão.
Olá Castanhas. Cá nos voltamos a encontrar.

FELIZ OUTONO!

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Espelho Perfeito


Sabem o que acho? O que procuro...

Agora a sério, eu penso que nós somos muito otários e vou explicar porquê.
Passamos as nossas vidas à procura de alguém que seja perfeito e que nos possamos conectar e identificar.
Mas esquecemo-nos convenientemente que todas e quaisquer pessoas têm defeitos e nunca as olhamos porque não são perfeitas, porque têm algum defeito de fabrico.
Peço já desculpa em antecipação pelos meus defeitos mas eu nasci para ser fantástico e não para agradar todos.

Continuando....
Procuramos aquela pessoa que nos cativa desde o primeiro dia, que nos aparece na nossa cabeça ao longo do dia, desde o momento em que acordamos até ao momento em que adormecemos. E o que acontece? Podem não acreditar, mas 95% das vezes passamos por essa pessoa todos os dias (e até podemos falar com ela diariamente) mas como vemos os defeitos dela, nunca a vemos de outra maneira que não antipática, agressiva, feia, burra, sem graça, pouco divertida, enfim, tantos outros defeitos existentes e enumeráveis.

Sabem o que procuramos então? Um espelho.
Para melhor perceberem o que qualquer um de nós procura, é algo muito parecido a isto:
Nota: Para efeitos de entretenimento apenas. E está em inglês.


Agora que já se riram e perceberam a metáfora, entendam que nós procuramos é alguém perfeito e francamente, quem é mais perfeito que nós mesmos.
Não procuramos ninguém que nos distinga mas sim alguém que pense como nós, que tenha os mesmos gostos e que sejam tão ou mais bonitos, inteligentes, engraçados, etc., que nós.
Assim sendo, nós procuramos nós e enquanto não inventam clones nossos e não encontramos alguém que seja como nós (e nunca encontraremos pois ninguém é 100% igual a nós), vemo-nos ao espelho e vemos o patamar elevado a que nos colocámos e as expectativas elevadas a que forçámos todos à nossa volta a superar.

Mas esquecemo-nos de algo importante. Se o espelho é perfeito, é porque reflecte o que vê nele. E se um espelho reflecte a nós todos (peço desculpa se algum vampiro lê isto mas também te acho perfeito à tua maneira e invejo a tua imortalidade), então somos todos perfeitos.
E se somos todos perfeitos, devíamos deixar de procurar longe a nossa felicidade quando ela pode bem estar a passar por nós, todos os dias da nossa vida.

Não tenham medo de arriscar. Dêem uma hipótese àquela pessoa que nunca viram de outra maneira que uma conhecida ou amiga. Acreditem, na maioria das vezes ficariam surpreendidos pela positiva. Eu sei que fiquei. Mas honestamente falando, vou andar com um espelho no bolso das calças para me relembrar nos maus momentos que apesar da vida não me estar a correr bem, eu continuarei perfeito para a enfrentar. E vocês deviam fazer o mesmo.

(E não, não farei o mesmo da parte final do video).
Um abraço, portem-se perfeitamente bem (mal).

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Silêncio das Palavras


Bem, admito que já não escrevia há muito mas nada a contar de novo.
Bem, muita coisa a contar mas nada que vos possa mostrar.
Segredos, segredos...

Bem, há dias conversei com um amigo meu que estava numa situação sensível e em conclusão, a frase da imagem justifica a beleza de nós mesmos.
Todos sabemos falar, mas muitos são mais poetas calados do que a falar. 


Então, em relação à situação sensível dele, todos passámos por ela e tem a ver com o facto de se estar apaixonado. Não vou contar a vida dele aqui mas vou usar algumas ideias da nossa conversa e escrever aqui uma espécie de motivação para vós, que provavelmente me vão criticar.

Vou falar por experiência própria: sou um pouco reservado e tenho certas dificuldades em conseguir manter uma conversa com uma rapariga sem estar nervoso (mesmo sem estar interessado na rapariga).
Mas muitas das vezes que falamos, por vezes, basta estarmos calados. Enquanto ouvimos a outra pessoa a falar, não precisamos de discutir, comentar, coscuvilhar...

Basta ouvirmos e sorrirmos. Porque na maioria das vezes, o silêncio é o maior elogio que podemos fazer e francamente, a frase mais bonita que podemos dizer a alguém.
Mostra interesse, cultura, bom-senso, inteligência e mistério, numa mistura que ninguém consegue resistir. Os atributos físicos são importantes e aí admito, não estou à altura da maioria dos homens de hoje em dia. Mas uma mulher decente vai querer ouvir e se eles dizem treta, perdem interesse. Claro que não podemos estar calados sempre mas por vezes, devemos manter um silêncio (e claro, juntando um sorriso), pois é o suficiente para derreter o coração de alguém e criar uma maior proximidade com a pessoa.

Se não acreditam, experimentem. Quando virem alguém que gostassem de falar (ou mais), sorriam e aproximem-se. Não fiquem especados a olhar. Sorriam, aproximem-se e digam que são tímidos mas que gostavam de conhecer a pessoa em questão.
E claro, o silêncio é assustador mas por vezes, o silêncio fala mais alto. E quem sabe, esse silêncio não vos traz felicidade.

Sejam poetas, falem silenciosamente e sejam felizes.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Uma Nova Luz



"No meio da sombra mais escura nasce a luz mais clara".

De certeza que alguém famoso já disse ou escreveu esta frase ou uma muito semelhante (caso contrário, é minha) mas não deixa de ser verdade. A vida por vezes traz-nos felicidade, outras vezes tristeza mas sempre todos nós ouvimos que quando "a vida nos dá limões, fazemos limonada".

Mas por vezes, quando estamos cansados e desidratados, não temos limões, nem laranjas nem cerejas para espremer e fazer sumo. Há uns tempos atrás estive nessa situação. O meu mundo acabara de desabar e acabei por me fechar. Criei rios e levantei tempestades mas não me fazia sentia melhor.

Ergui um muro em meu redor com tecto e isolei-me de tudo e de todos, inclusive do Sol. Queria estar sozinho, no meu canto escuro e talvez afogar-me nas minhas próprias lágrimas, enquanto não deixava as feridas sararem. E pensei que ali iria ficar, perdido e escondido debaixo daquela nuvem negra que me pairava sob a cabeça.

Mas um raio de luz quebrou o tecto e torturou as sombras. Olhei e vi uma escada a descer, que me permitiria fugir. Mas recusei-me a sair do poço onde estava, onde sabia que não sofria e que apesar de estar em dor, não era fatal. Mas encorajaste-me e lutaste por mim. Não me querias deixar voltar para as sombras.

Então ergui-me a custo e em dor e comecei a trepar com bastante dificuldade, enquanto a tua luz me protegia das sombras, derretendo as correntes escuras e apertadas que me prendiam no fundo do poço. E com isso fui-me libertando cada vez mais, à medida que ia subindo mais um degrau, até que acabei por sair ileso.

No meu pior momento, aconteceu o meu melhor momento e tudo graças a ti. Saí do meu forte que me enfraquecia, em tua direcção. E cada vez que a nuvem escura regressa, a tua luz queima-la e me protege, bem junto a ti.

És o meu Sol e o meu porto de abrigo e sinto-me capaz de voltar a sorrir, sabendo que é por tua causa que estou assim e sabendo que iremos caminhar de mãos dadas, vencendo qualquer sombra que nos queira separar.

Obrigado por teres aparecido.
Obrigado por teres ficado.
Obrigado por nunca me ires abandonar.
Obrigado.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Lobito



Dedicada à vida de um grande companheiro de armas, escrevo isto em tua honra.

Acordas e entras em modo automático pelo duche. Não sentes alegria, tristeza, ou qualquer outro sentimento. Apenas sentes a água que te cobre o corpo enquanto lhe juntas o sabão.
Despedes-te da família pois não sabes se voltas a casa nesse dia, como costume.
É uma batalha que enfrentas todos os dias enquanto caminhas entre os locais do costume: a chuva dura na cara e o seu fiel companheiro vento que te lembra o porquê de terem inventado camas e colchões.

Caminhas sem destino traçado, como um lobo solitário. Lobo... Mais um lobito. Ainda és jovem, eu também o sou e quem está aqui a ler também o é.
Mas caminhas lobito, sem rumo e direcção, sem companhia ou compaixão.
Nunca mostras o teu sorriso, nunca derrubas o muro que ergueste à tua volta.
Caminhas distante da alcateia, porque queres, porque necessitas daquele abraço frio e cruel da solidão.

Por vezes abrigas-te mas sem nunca baixar a guarda. E de madrugada ainda fazes-te à estrada, sem deixar migalha. Apenas saudade.

Mas não te importas. Sempre te sentiste excluído, deixado de fora e sentes-te bem com isso. Recusas a mostrar e partilhar as tuas alegrias mas preferes provar porque tens essas cicatrizes. Eu entendo-te, mostras-las não por compaixão mas por medo de que aconteça o mesmo a quem se aproximar de ti.
Preferes ir vagueando sozinho como um lobito solitário ou até mesmo atacar quem se aproxima, do que deixar alguém te tocar e partilhar o mesmo caminho que tu e ser atacado por outro lobo.

Preferes sentir a tua dor, do que sentir a dor dos outros.
Preferes ver tudo em tons de preto do que em tons coloridos.
Para ti, não há segundos caminhos nem a estrada para trás jamais existe, passo após passo.
Mas para onde quer que vás, guias-te sempre pelas estrelas.
E por elas regressas sempre a casa, junto à tua família.

Mas relembra-te que os lobos são animais de equipa e funcionam melhor em alcateia. Agora não queres mas pensa que na alcateia podias estar mais protegido.
Assim, arriscas-te a sair pelos caminhos de neve e as estrelas não estarem lá para te guiar de volta. E aí desapareces, misturado na neve branca quanto a tua pele e nunca mais te veremos.

Mas se não quiseres regressar, deixa outros lobos caminharem contigo e quem sabe, se não será melhor assim. Podes ser um lobo solitário mas podes ser um lobo amado. Em qualquer das escolhas, continuo a cruzar caminhos contigo na esperança que dispas a pele de lobo e quebres o muro que ergueste. E aí, a chuva parará e o sol voltará a brilhar-te.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Sonhar Acordado



Acordei a meio da noite com frio e tento puxar mais um lençol mas ele teima em não vir.
Faço um esforço sem abrir os olhos mas continua imóvel, oferecendo resistência.
Abri os olhos e vejo um vulto branco ao fundo da cama. Calafrios descem pela minha espinha enquanto o vulto se aproxima. Tento gritar mas rapidamente me silencia a voz com a sua mão branca.

Não me consigo mexer e tenho medo de fazer um movimento em falso e ali sofrer. Apenas fico observando o vulto a um passo de distância mas ele parece sereno. Tento ver a cara dele pelo meio daquele longo cabelo mas retira-me a mão na boca e gesticula para me levantar.

Entre o medo e a adrenalina, lá me levanto. O vulto afasta o cabelo e vejo-la. Apesar de branca como o açúcar, mantém a sua postura e beleza doce que sempre tivera. Vejo-lhe um sorriso e ela afasta-se. Instintivamente lhe seguro o braço. Ela pára e vira-se para mim. Ela volta a sorrir enquanto nos fitamos nos olhares.

Decido aproximar-me e acariciar-lhe o cabelo e o rosto e sinto-lhe a cara fria a aquecer. Vejo nela aquele seu brilho no olhar, que sempre me cativou. Inclino-me para ela mas ela afasta-se em direcção à janela aberta. Por entre os cortinados que estão esvoaçando, perco-la de vista.

Mas oiço a sua voz a dizer-me que um dia talvez nos vejamos e sinto um beijo na cara. Sinto-lhe também as suas lágrimas a correrem pelo meu rosto e assim que me aproximo da janela, ela fecha-se abruptamente e sou atirado para a cama. Acordo mas não sei se sonhei ou se foi real a fantasia.

Mas sinto o seu doce aroma nos cortinados, ao abrir a janela e sorrio. Sei que não a vi verdadeiramente até agora mas sei que um dia a verei e poderei estar com ela. E aí, não me importarei de sonhar acordado e voar pela janela fora com ela, em direcção às estrelas...

domingo, 6 de setembro de 2015

Orgasmo Lírico

Bem, mais um pedido, mais um texto.

Hoje trago-vos um tema mais difícil mas vou tentar fazer o melhor que posso para não vos desiludir.
Aqui vai:

Quando se começa a ganhar fama, de ficarmos conhecidos pelos nossos talentos, é uma sensação mista que temos.
Por um lado, ficamos felizes por sermos reconhecidos pelo nosso trabalho mas por outro, não procuramos essa atenção (em metade dos casos, onde eu me incluo).

Falando do meu caso, escrevo porque me permite falar de tudo sem falar de nada, sentir tudo sem sentir nada e sonhar com tudo sem ter de adormecer.
Permite-me passar para o papel o que me vai na alma, no coração, na mente, enfim, o que vai em mim.
E não falo se matéria orgânica mas sim intelectual.

Elogiam-me pelos meus textos e dão-me novas ideias. Permite-me ampliar sentimentos e re-olhar para os textos e vê-los da perspectiva de um fã e não do escritor. pois sendo eu honesto, quando escrevo, desligo-me de tudo. Do que se passa fora e do que se passa dentro de mim. Quando pego na folha e a rabisco, vejo-me muitas vezes atirado para o banco de trás e observo apenas o que as minhas mãos escrevem, sem qualquer controlo e ordem minhas. E sinceramente, não quero retomar controlo. Quero poder gozar a viagem que me faço tomar e ver as palavras e frases a formarem-se como se fosse uma viagem de auto-descoberta minha do caminho em si.

Todos queremos ir a algum lado mas preferimos ver o caminho em si, do que o destino.
Queremos saber o que há no meio do A e B.
Eu digo-vos o que há: Há Tudo!

Tudo pode haver no meio destes caminhos. Pode haver pessoas, locais, sentimentos, palavras, gestos, animais, pensamentos e tantas outras coisas, que torna os nossos caminhos únicos.
E aqui as escrevo.
Nunca me vi com o objectivo de escrever A e chegar a B.
Vi-me com a vontade de escrever o que há entre A e B e como chegar de um lado ao outro.
E muitas vezes, sinto-me em paz quando escrevo. Posso sentir felicidade, tristeza, raiva, angústia, dor e surpresa mas no final, sinto paz. E é neste cocktail de emoções que me faz parecer ter um "orgasmo lírico", pois assim como muitos de vós já tiveram relações, facilmente me vão entender: Há a parte da descoberta da outra pessoa, dos passeios, dos gestos, das palavras e tudo para chegar ao quarto e voltar a descobrir a pessoa e sentir tudo naqueles momentos íntimos. E é o que sinto quando escrevo. Uma intimidade só minha com o papel, onde me entrego a ele e juntos fazemos uma boa dupla e onde acabamos ambos em paz e satisfeitos.

Uma vez disseram-me que provoquei também orgasmos com estes textos, orgasmos líricos.
Ao início, ri-me e achei exagerado mas nos dias seguintes, ao reler os meus textos, percebi o quanto tinha razão a pessoa.
Porque são textos vindos da alma e preenchidos com o coração, onde despertam todos os sentimentos possíveis e que nos levam numa viagem sem fim aparente à vista.
Mas ao ver isso, pensei que fosse egoísta não me mostrar a vós e aos meus textos.
E aqui os partilho, para que todos possam participar nesta viagem de auto-descoberta.
Somos todos bons em algo que fazemos e todos temos prazer nisso.
Eu tenho esse prazer lírico e há quem tenha prazer desportivo, prazer amigável, prazer familiar, e outros tantos.

Todos temos a capacidade te sermos felizes e termos algo e alguém a que(m) nos podemos entregar e ser nós mesmos, sem correntes, barreiras e travões. E sermos nós mesmos e termos prazer.
Porque o que nos trás a felicidade é esse prazer e esse prazer começa com um orgasmo.

Um bem-haja a todos.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Baixa-Chiado


 Por sugestão de uma fã, decidi escrever algumas linhas sobre este local.
Estamos na Baixa-Chiado, coincidentemente o local onde trabalho e onde me sinto constantemente vigiado pela mesma Pessoa, sentada no seu local do costume, julgando tudo e todos mas sem nada dizer. Apenas observa e escuta.

Pois bem, hoje vim à varanda do meu trabalho e mais uma vez o vi lá, no seu local do costume, ali estático, vendo a vida em Lisboa. Decidi que hoje ele não ficaria sozinho e lá desci o prédio e pedi-lhe autorização para lhe fazer companhia e partilhar a sua perspectiva ocular e auditiva.
Ele nada disse mas deixou o lugar junto do dele vazio. Tomei aquilo como um sim e sentei-me.

Ali deixei-me estar um pouco. Tentei fazer conversa com ele mas recebia apenas silêncio, enquanto no olhar dele via ele a observar vivamente o que se passava à volta.
Segui-lhe o exemplo.

Vi pessoas apressadas a subir e descer a rua, com sacos de compras nas mãos.
Vi pessoas a correrem em direcção ao eléctrico que se preparava para partir.
Vi pessoas a fazerem sprints enquanto olhavam para o relógio e desciam o túnel de acesso ao metro.
Vi movimento.
Aqui podíamos captar talento para as provas de qualificação para os jogos olímpicos de atletismo.
Mas não vi pessoas.

Vi seres robotizados, automatizados, que se desligavam do mundo e ligavam-se à corrente, como carros que não têm travões. E admito, fez-me impressão.
Eu gosto de falar bastante e sei que posso ser chato mas ver "pessoas" que agem como máquinas e não têm tempo para parar e atender o telefone ou mesmo tomar o café com calma.

Aqui sentado ou lá em cima no 4º andar do prédio, não vejo pessoas: vejo formigas.
Cada uma com a sua tarefa e a executá-la o mais depressa possível antes que aconteça um imprevisto e lhes estrague o dia, antes de dizerem um palavrão ou outro para o ar.

Aqui invejo o senhor ao meu lado na cadeira. Todo o tempo do mundo, aparece aqui, senta-se e observa o mundo em redor. Traz sempre um caderno e uma caneta no bolso e por vezes parece apontar algo. Não lhe pergunto o que escreve, pois provavelmente não me ia contar mas sinto que ele escreve o que ninguém vê, o que ninguém sente. Escreve sobre a vida.

Fixamo-nos em lojas, em trabalho, em correrias, que não ligamos aos pequenos momentos que acontecem quando paramos para respirar. Seja uma chamada de um amigo, um pequeno obrigado, um beijo de um familiar ou algo, ignoramos para fazer maratonas.
Quem corre por gosto não cansa mas aqui corremos por não nos lembrarmos do porquê de corrermos.

E aí, devemos ter essa humildade de(o) Pessoa.
Faça chuva, faça sol, seja dia, seja noite, ele aqui aparece e senta-se. Observa e escuta sem nada dizer.
A aprendemos mais com o silêncio dele do que com as maratonas que fazemos.
Convido-vos a passar uns minutos com ele ali sentado. Vale a pena a experiência e a sabedoria dele.

Um bem-haja a todos.