Pessoal, hoje não venho fazer rimas e poemas.
Hoje sinto-me algo em baixo.
A imagem acima não é real mas já não tinha fotos mais exactas, portanto tive de procurar uma que captasse a essência do animal em questão.
Durante alguns anos, tive uma namorada e ela tinha uma cadela enorme de raça Rottweiler (como ilustra a imagem acima). Era enorme e defensora mas simpática, brincalhona e gostava imenso de festas e de passear. Principalmente passeios de carro e em jardins e praias. E quando via um arbusto enorme, ela lá tinha de ir a correr e saltar lá para dentro e chocalhar a planta toda.
Era uma cadela fofinha e apesar de não ser minha, tratava-la como se fosse minha, mimando-la e dormindo por vezes com ela ao meu lado, sentido algumas lambidelas para acordar. Não me importava, adorava aquela cadela e divertia-me com ela.
Nos primeiros meses descobri que ela tinha uma doença grave cujo nome não me recordo e que lhe tirava metade dos anos de vida. Estes cães costumam chegar aos 20 anos de idade e quando a conhecia, já ia nos 5 anos de vida. E como as coisas correram mal com essa minha ex-namorada, acabei por me afastar e nada mais saber deles. Até ontem...
Ontem, um amigo em comum contou-me que a cadela tinha morrido. E senti-me mal. Agradeci-lhe e desliguei. Estava a ver um jogo de futebol mas não estava concentrado nisso. Passava-me pela cabeça as memórias que tinha com a cadela, as aventuras, alegrias, sustos e momentos mais fofinhos e engraçados que tive com o doido do animal.
Lembro-me da primeira vez que a vi: Entrava eu em casa da rapariga, quando apareceu esta besta a olhar seriamente para mim, pronto para atacar. E admito, tive receio que me visse como um naco de carne e já não saísse vivo daquela casa.
Mas há medida que os tempos iam passando (e muita comida debaixo da mesa dada), lá foi ganhando confiança e vinha por vezes trazer-me a trela para irmos à rua ou um brinquedo para eu atirar e ela ir buscar. Mesmo quando estudava, ela lá saltava para cima da cama e deitava-se em cima das minhas pernas e cadernos e livros e ficava olhando para mim, com aqueles olhos de cão a olharem-me para mim e pedir atenção. E claro, largava a caneta e calculadora e dava-lhe festas e um ou outro beijo na cabeça. Acabava por adormecer, a ressonar mas feliz e quentinha e eu apenas ajustava-me e continuava a estudar.
Quando o namoro acabou, eu sabia que não a veria mais e isso magoou-me. Pude-me despedir dela com um último passeio e sabia que passava uns meses e a cadela nunca mais se lembraria de mim. Mas pouco tempo depois, recebo a notícia da morte, no dia em que ela celebrava 8 anos.
Não sei se há funeral, cremação, enterro, não sei.
E não tenho coragem para perguntar à minha ex-namorada se a cadela sofreu ao morrer, se dormiu no sono, se é preciso algo, por causa da maneira como a relação acabou entre nós.
E tenho de ser honesto: não vou perguntar nada a ela, porque sei que ela vai pensar que isto será uma maneira de eu voltar a tentar. Mas isso é mentira porque eu não quero mais nada com ela. Se ela quiser ser amiga (como sempre disse que o queria ser), ela tem de dar o primeiro passo e falar (como lhe disse). Meses depois e nada.
E soube por um amigo. Ela sabia que gostava da cadela imenso e não me quis contar. Mas eu entendo, ela está a sofrer e não quis falar.
Mas o que está em causa é a cadela.
Portanto, tenho a dizer que lamento me ter afastado de ti, Luna (nome da cadela).
Gostava de te ter continuado a ver e passear contigo e ver-te a desapareceres nos arbustos e levares com ondas do mar. E gostava de ter estado contigo na tua hora final. Não me pude despedir de ti. Fi-lo quando a minha relação com a tua dona acabou mas tu eras uma cadela e podias não perceber o que se estava a passar mas espero que o teu último pensamento tenham sido as memórias felizes que tiveste na tua vida. E espero que estejas em paz. Um dia, quem sabe, nos voltaremos a ver e aí faço-te companhia e saltamos os dois para cima das nuvens e provocamos a chuva nas pessoas.
Porque mesmo que digam que não, os animais pensam e sentem e se assim o é, de certeza que também têm uma alma.
Descansa em paz, minha "amiga".
Dorme bem.
Huf Huf.