terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Antissocial


Não estou na imagem mas se pudesse ali estava. Quer dizer, não poderia. Isso obrigaria-me a falar com a rapariga que ali se encontra. Reformulando, eu identifico-me com a jovem que ali se esconde, aninhada no seu gato.

Provavelmente arranjava uma toalha maior que chegasse até ao chão e me escondesse do mundo. Mas não seria preciso. O mundo esqueceu-se de mim e finge não me ver.
Passa por mim mas não me reconhece.

Sou uma sombra apenas, alguém que vagueia pelos mesmos passeios onde tu ou alguém que conheças já pisou. Não sou pisado mas sou ignorado. Ninguém me conhece. Ninguém me finge conhecer. Sou invisível, apesar de ser bastante grande. Não em altura mas em peso e em sentimento.

Mas hoje em dia, ninguém liga ao sentimento. O físico é que importa e quanto mais gordo fores, mais invisível te tornarás. O que é contraditório com a lógica. Mas a sociedade nunca se guiou pela lógica, apenas pelo sentimento. O que é contraditório pois se as pessoas se guiam pelo sentimento, porque não se avaliam pelo coração e não pelo corpo?

A sociedade é contraditória e eu também o sou. Mas a sociedade rejeita-me por ser contraditório. O que é contraditório ao seu estatuto. Se pertenço à sociedade, ajudo-la a ser contraditória.
Talvez por me quererem colocar de fora queiram deixar de ser contraditórios.

Entenderia isso mas as pessoas são reflexo da sociedade e se as pessoas se guiam pela razão, nenhuma sozinha se moverá pela emoção.
Bem, quase nenhuma. Eu continuarei do contra e me movendo pela emoção.

Não me importa se o meu vizinho, amigo, familiar ou desconhecido seja alto, baixo, magro, gordo, feio, bonito, parvo, sério, etc. Usem os adjectivos que quiserem. Mas para mim, basta serem verdadeiros e honestos, ou seja, boas pessoas e eu libertar-me-ei do meu casulo e serei vosso amigo e principalmente, serei social.

Mas como hoje em dia, estamos rodeados de pessoas de duas faces, é difícil perceber quem é verdadeiro. Então mantenho a minha distância das pessoas no comboio e o silêncio é o que mais ouvirão de mim. Sou capaz de ser o único a estar em pé no comboio junto à porta de saída, quando existem pessoas nas cadeiras, todas sentadas e com lugares vagos ao seu lado.

Mas por medo isolo-me da sociedade. Não por medo de falar. Mas por medo de ouvir. Ouvir algo que não queira, não seja real, não seja honesto e me deixe arrependido de ter fé nas pessoas.
Prefiro a distância. É reconfortante. Não, esperem: eu corrijo.
Prefiro esperar a companhia certa em que possa ser eu mesmo, sem ter julgamentos de terceiros.

Sei que faço mal esperar que sejam os outros a falar mas prefiro assim do que acabar por mal ficar.
Por isso aguardo, que existam pessoas como eu. Que não olham para o exterior mas sim para o interior.
Quem me conhece, sabe que tenho bom coração e quem me desconhece pode achar isto convencido.

Mas para quem não me conhece e aqui vem lendo os meus posts, têm uma ideia minha. Não preciso de vos convencer. Basta ler os posts e verem que uso o sentimento e não a razão.
Já se faz tarde, tenho de voltar para a sociedade e passar despercebido neste mundo a preto e branco. E nesse mundo, sou transparente. Todos vêem através de mim mas ninguém me vê.

Mas se me vissem, tenho a certeza que viam apenas um espelho de si mesmos.
E com isso, havia palavras, frases e diálogo. E onde há diálogo, há sociedade. E sendo eu atraído para conversas com sujeitos emocionais, a sociedade seria emocional.
E assim viveríamos um mundo melhor.
E assim justifica-se ser-se antissocial...

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